A cidade é uma realização humana. Sob a ação dos indivíduos no território urbano, ela muda cotidianamente. A partir dos anos 80, com a crise econômica, novos sujeitos chegam à cidade e disputam dia a dia, palmo a palmo o espaço urbano. Segundo Massimo Canevacci, Cultura, comunicação e consumo – tal é a política atual. Não para conquistar poder, mas conquistar espaço ou não- espaço. No udigrúdi das estratégias de sobrevivência, os espaços vão sendo ocupados e os produtos, serviços, hábitos, crenças e códigos atualizados e globalizados. Esses migrantes rompem com a ordem dominante dos planejamentos urbanos e estabelecem outros modos de ocupar a cidade e de se pensar o coletivo. Novas e improvisadas cartografias são impostas à cidade. Entretanto, esses migrantes, na maioria das vezes, só são percebidos nos problemas que acarretam à cidade e pouca atenção se dá às suas necessidades e direitos. Nossa pesquisa percebe os novos sujeitos da cidade de Florianópolis. Interessa-nos suas estratégias de sobrevivência e os fluxos de globalização surgidos a partir da ocupação dos lugares de moradia, comércio e troca de bens e serviços. Pretendemos dar continuidade aos projetos anteriores nas comunidades de periferia, como os “registros de álbuns de família” e o “imaginário poético de jovens da periferia”, já publicados os primeiros resultados no catálogo “A cidade não pára” e no site deste projeto. Para esta etapa do projeto, nos propomos a pesquisar as ocupações urbanas com finalidade de comércio e prestação de serviços, tais como ambulantes e camelôs instalados especialmente no centro da cidade. A partir das leituras de textos pertinentes ao assunto proposto, estaremos entrevistando os ambulantes e prestadores de serviços, analisando suas estratégias de sobrevivência e, especialmente, suas representações estéticas. Essas reflexões darão suporte à elaboração de ensaios a serem apresentados em fóruns acadêmicos e de planejamento e gestão pública e, posteriormente, publicados num catálogo. Com o intuito de envolver nessa problemática a comunidade acadêmica brasileira, os gestores do espaço público e a sociedade civil, estamos organizando um colóquio para o mês de setembro próximo. Pretendemos com nossas pesquisas integrar os estudos acadêmicos às dinâmicas urbanas contemporâneas de forma a dialogar com os novos sujeitos da história, desenvolver a auto-estima dos que trabalham na sobrevivência diária, como também perceber e dar a perceber aos habitantes da cidade as políticas e poéticas dos novos sujeitos da cidade e seu lugar na cultura contemporânea. As pesquisas universitárias devem se integrar às dinâmicas sociais do dia-a-dia das cidades.